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terça-feira, dezembro 21, 2010

INDÚSTRIA DO CRIME. Bandos clonavam viaturas para assaltar casas e bancos



 - JOSÉ LUÍS COSTA, Zero Hora, 21/12/2010

Quadrilhas presas ontem adotavam a estratégia para tentar driblar blitze e complicar investigações. Para despistar a polícia após assaltos a bancos e roubos a residências, um consórcio criminoso montou uma fábrica de veículos clonados. Pelo menos 10 automóveis eram roubados por mês pelos criminosos para serem usados nas fugas, segundo revelou a Polícia Civil após uma megaoperação na Região Metropolitana para desmontar as quadrilhas. Parte dos carros se transformava em réplicas de viaturas discretas da Polícia Civil.

Uma investigação iniciada em março revelou que, por quatro meses, dois bandos gaúchos mantiveram uma espécie de linha de produção de clones. Chegaram a utilizar uma prensa roubada de um centro veicular em maio, em Cachoeirinha, para fabricar placas idênticas a de viaturas policiais que circulam no Estado. Assim, os criminosos acreditavam ser possível driblar blitze nas estradas. Para reforçar o disfarce, também portavam carteiras funcionais de policiais.

Ontem, sete suspeitos de integrar esses bandos foram capturados em Porto Alegre e São Leopoldo por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Os dois grupos ainda são investigados pelo assalto a um banco e pela morte de um comparsa em um desentendimento.

Conforme o delegado Heliomar Franco, da Delegacia de Repressão a Roubos de Veículos, o bando teria clonado três Focus roubados – o modelo mais recente de carros usados pela Polícia Civil –, copiando placas de viaturas discretas de órgãos administrativos do Palácio da Polícia Civil, na Capital. Passando-se por policiais, tiveram mais facilidade para entrar em estabelecimentos comerciais e residências – os investigadores apuram o número de ataques. Em alguns casos, conforme a polícia, agiam com violência, agredindo vítimas.

– Já aconteceu de usarem coletes, carros com sinalizador giroflex, mas é a primeira vez que constatamos clonagem de viaturas. Os criminosos vão se aprimorando, criando formas de agir, e nesse caso, induzindo as pessoas a suspeitar que os roubos eram praticados por policiais – afirmou o chefe de Polícia, delegado Álvaro Steigleder Chaves.

A participação de servidores foi descartada pelo delegado Heliomar.

Operação amplia o cerco aos criminosos

A operação de ontem representou o fechamento do cerco aos suspeitos de integrar as duas quadrilhas. Outros 16 investigados já estavam presos, entre eles, Peter Nunes Goulart, detido em 23 de julho ao ser flagrado em uma lavagem de carros no bairro Partenon, na Capital, onde estariam sendo clonados um Fit e um Celta. Goulart é conhecido da polícia por ter sido denunciado pelo Ministério Público por suposta participação na explosão de uma bomba em uma padaria no centro da Capital, que deixou três pessoas feridas, em junho de 2008. O processo tramita na Justiça.


Grupo fabricava documentos

A operação denominada Covil – porque a investigação começou a partir de um esconderijo do bando, no Vale do Sinos – contou com a participação de 200 agentes do Deic e de delegacias da Região Metropolitana. Os policiais vasculharam 31 endereços com mandados de busca e apreensão na Capital, em Alvorada, Canoas, Esteio, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Três homens e quatro mulheres foram presos temporariamente, e um Palio e um Chevette foram recolhidos – outros 11 veículos já tinham sido recuperados.

No apartamento de um dos presos, no Beco das Moças, na zona norte da Capital, foram apreendidas três carteiras de habilitação supostamente falsas em nome de mulheres. Na moradia em frente, que seria de um dos integrantes do bando preso anteriormente, havia uma impressora, supostamente para “fabricar” documentos. Outro suspeito foi pego quando saía do Albergue de São Leopoldo, onde cumpre pena por assalto em regime semiaberto.

Conforme a polícia, os criminosos se organizavam em dois grupos com bases em São Leopoldo e na zona norte da Capital com ramificações em Alvorada, compartilhando armas, carros roubados e a venda de drogas.

– As prisões nos garantem uma certa tranquilidade para o Natal, Ano-Novo e o começo de janeiro – afirmou o o delegado Heliomar Franco.

O ESQUEMA

1. Integrantes do consórcio criminoso monitoravam delegacias para descobrir as placas de viaturas discretas usadas pela Polícia Civil;

2. Carros idênticos eram roubados para que recebessem placas falsas produzidas pelo próprio grupo em uma prensa roubada;

3. Os veículos eram usados em assaltos a banco e em invasões a residências. Com as placas falsas, os criminosos driblavam blitze.

O ATAQUE A BANCO - A Polícia Civil tem certeza de que o consórcio do crime participou de pelo menos um ataque a banco. O alvo foi a agência do Sicredi de Barão, no Vale do Caí, em abril. Seis bandidos fizeram funcionários de uma loja ao lado do banco de reféns, usando as vítimas como escudo humano. O bando fugiu levando dinheiro e eletrônicos da loja

COMO FOI O ASSALTO AO SICREDI EM BARÃO-RS

Insegurança, tiroteio e reféns em assalto ao Sicredi em Barão-RS - Diário de Canoas, 09/04/2010

Mais uma cidade pacata do Rio Grande do Sul entrou na rota de assaltos a instituições financeiras, diante da insegurança nos pequenos municípios do Estado. Desta vez, pelo menos seis homens encapuzados e armados de fuzis, submetralhadoras, revólver e pistolas, assaltaram a agência do Sicredi, no centro de Barão, no Vale do Caí, por volta das 10 horas de quarta-feira, dia 7. 

O Sicredi é uma cooperativa de crédito que, na prática, é hoje um banco, efetuando todas as operações bancárias, mas continua dispensado de cumprir as normas de segurança previstas na lei federal nº 7.102/83, sendo uma das instituições mais visadas pelas quadrilhas no Sul do Brasil.

Os ladrões, que fugiram com dinheiro e armas, usavam coletes à prova de balas. Os assaltantes dispararam tiros de fuzil contra uma viatura da Brigada Militar estacionada na entrada do estabelecimento bancário, depois fizeram funcionárias de uma loja como escudos humanos para entrar na agência. 

No interior do banco, desarmaram um vigilante e o soldado Alisson da Silva Fogaça, único policial militar em expediente na cidade. Do lado de fora, ordenaram um caminhoneiro a bloquear a rua e dificultar a ação policial. 

Os bandidos tiveram acesso ao cofre e, em menos de 20 minutos, fugiram com quantia em dinheiro não revelada em dois carros, um Renault Clio prata e um Focus preto, ambos abandonados minutos depois. Até a noite de ontem nenhum suspeito havia sido preso. 

COMO FOI A AÇÃO

1. Pelo menos seis homens armados e encapuzados aproveitaram a movimentação de abertura da agência do Sicredi, no Centro de Barão, por volta das 10 horas, para iniciar o assalto 

2. Ao perceber a presença de uma viatura da Brigada Militar estacionada na porta da agência, dispararam, acreditando que o agente estivesse dentro do carro 

3. Os tiros alertaram o vigilante do Sicredi que ficou em posição de defesa, assim como o policial militar que estava no interior da agência 

4. O grupo tomou como reféns funcionárias de uma loja ao lado do estabelecimento financeiro e avançaram para dentro do Sicredi 

5. Vigilante e PM foram desarmados, funcionários rendidos e o cofre aberto para que fosse saqueado 

6. Enquanto a maior parte do grupo permaneceu dentro da agência, um dos assaltantes rendeu um caminhoneiro e o obrigou a bloquear a Rua Buarque de Macedo com o veículo para dificultar a ação de policiais 

7. Menos de 20 minutos depois, os bandidos fugiram com dinheiro em um Focus preto e um Clio prata, ambos abandonados na sequência 

8. Na localidade de Linha Babilônia, a oito quilômetros do Centro de Barão, atiraram contra as viaturas e um avião da BM, mas conseguiram escapar, se refugiando em um matagal em São Pedro da Serra 

9. Policiais militares de todo o Vale do Caí e Serra Gaúcha, agentes da Polícia Civil de Barão, Montenegro e da Delegacia Especializada em Roubo a Banco do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) trabalharam nas buscas.

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