ZERO HORA 15 de setembro de 2012 | N° 17193. ENTREVISTA
ADRIANA IRION
Um cidadão indignado, um secretário frustrado. Foi assim que o comandante
da Segurança Pública do Estado, Airton Michels, se definiu ontem, ao falar do
sentimento que o tomou ao assistir às cenas do ataque a um cidadão de 81
anos agredido e atropelado por ladrões de carro, em Porto Alegre. Michels
promete medidas enérgicas para as regiões com “surto” de roubo de carros.
Ao falar das excessivas demandas que a polícia ostensiva tem, propõe um
debate: se a Brigada Militar deve continuar empregando pessoal no
policiamento dentro de estádios de futebol. Leia a seguir trechos da
entrevista que Michels concedeu, por telefone, a Zero Hora:
Zero Hora – Qual seu sentimento diante de uma ação tão violenta
contra um idoso durante roubo de veículo?
Airton Michels – Repulsa ao que está acontecendo. Pegar um revólver e
assaltar alguém já é um ato extremamente violento, porque o cidadão que faz
isso coloca a vida da vítima à disposição dele. E esse caso traduziu um
momento de violência exacerbada, covarde, desnecessária. Isso provoca uma
comoção popular muito grande. Toda violência é desnecessária. Mas cometer
isso com um cidadão dessa idade – de qualquer idade – isso provoca comoção,
assim como o episódio que ocorreu com um trabalhador do Hospital de Clínicas,
morto em plena Ramiro Barcelos. Mas o norte que a gente não deve perder
nisso, é que isso ocorre há dois, três, 10 anos. Esse quadrilátero entre o Bom
Fim, abarcando a partir do Rio Branco, margeando a Cristóvão Colombo, até a
Ipiranga, até Petrópolis, temos que tomar providências. Estamos agindo,
conversando com os comandos, tanto da Polícia Civil como da Brigada Militar.
Nós não podemos aceitar um número muito alto de assaltos que ocorre aí há
muitos anos.
ZH – O senhor diz que esses assaltos ocorrem há anos na região.
Michels – Nós, como força-tarefa, estamos atuando em regiões em que morre
muita gente. Trouxemos 200 PMs do Interior para os quatro territórios mais
violentos de Porto Alegre, até porque lá atuando a gente consegue evitar que
os infratores de lá se somem à região central. E estamos contratando mais
policiais.
ZH – Como conciliar o trabalho nos territórios da paz com o que é
preciso fazer nas regiões com altos índices de roubo de carros?
Michels – Temos um fenômeno, não tem aumentado o número de roubo de
carros em Porto Alegre. Temos ações de inteligência em andamento. Uma ação
que vamos fazer, por exemplo, em detrimento de atendimentos em delegacias,
é tirar policiais para que atuem nessas áreas fazendo trabalho de inteligência.
E somar a Brigada. Eu não gosto de dizer isso, pois temos uma evolução legal
importante, mas é fato que em casos de crimes de furto ou de roubo tentado,
se o sujeito não tem condenação anterior, a lei é branda. Existe o fenômeno em
que as pessoas são presas e em uma semana estão em liberdade. Não estou
cobrando do Judiciário – esse é o nosso sistema constitucional,
ZH – O senhor tem medo de assalto?
Michels – As pessoas temem. Eu temo, tu temes. É um crime que deve ser
coibido e, no meu entender, o assalto com uso de arma deveria ter um
apenamento muito mais alto do que o atual previsto no Brasil.
ZH – O senhor acredita que ocorrências mais graves, roubos de carro,
podem estar relacionadas à diminuição de blitze?
Michels – Temos feito blitze. Mas temos que entender que a nossa polícia
ostensiva é demais exigida. Por exemplo, todos os finais de semana nós
mobilizamos em torno de 150, 200 homens para atender a partidas de futebol.
No Gre-Nal, a Brigada mobilizou 250 homens. Quando tu mobilizas
250 homens – e é necessário a cautela, a prudência – mas, na verdade,
esses homens não poderão trabalhar todo o final de semana. Porque sábado
têm de estar folga e estarão de folga na segunda. A Brigada tem demanda
de mobilidade muito grande que, às vezes, faz faltar homens e ações em
ZH – O senhor entende que a BM não devia fazer o policiamento
nos estádios?
Michels – Essa discussão nós temos que levantar, já conversei
informalmente com o comandante (comandante-geral da BM, coronel Sérgio
Roberto de Abreu). Não que não precise segurança nos jogos de futebol,
mas temos que discutir. A sociedade quer a Brigada dentro dos estádios,
se sente mais segura? Ou os clubes assumem essa responsabilidade, já que
se trata de um evento privado?
ZH – O senhor diz que o número de roubos tem se mantido estável
e ao mesmo tempo afirmou que há um surto...
Michels – Quando digo surto é me referindo a esses dois episódios
(latrocínio na Ramiro Barcelos e o ataque ao idoso). Me marca muito um
latrocínio, em qualquer circunstância. O número de latrocínios esse ano
diminuiu em torno de 20%, mas isso não é motivo para festejar. O latrocínio
é um crime que comove muito. Esse caso que aconteceu com esse cidadão
com 81 anos, de forma violenta, também.
ZH – O que o senhor sentiu ao assistir às imagens da agressão
ao idoso?
Michels – Como qualquer cidadão, meu sentimento é de indignação.
Mas não só indignado. Como secretário, sinto uma frustração enorme.
Não tenho a pretensão de resolver os problemas de criminalidade de
um dia para outro, mas quando ocorre um latrocínio, fico profundamente
frustrado como secretário de segurança.
Airton Michels - Secretário da Segurança Pública
ADRIANA IRION
Um cidadão indignado, um secretário frustrado. Foi assim que o comandante
da Segurança Pública do Estado, Airton Michels, se definiu ontem, ao falar do
sentimento que o tomou ao assistir às cenas do ataque a um cidadão de 81
anos agredido e atropelado por ladrões de carro, em Porto Alegre. Michels
promete medidas enérgicas para as regiões com “surto” de roubo de carros.
Ao falar das excessivas demandas que a polícia ostensiva tem, propõe um
debate: se a Brigada Militar deve continuar empregando pessoal no
policiamento dentro de estádios de futebol. Leia a seguir trechos da
entrevista que Michels concedeu, por telefone, a Zero Hora:
Zero Hora – Qual seu sentimento diante de uma ação tão violenta
contra um idoso durante roubo de veículo?
Airton Michels – Repulsa ao que está acontecendo. Pegar um revólver e
assaltar alguém já é um ato extremamente violento, porque o cidadão que faz
isso coloca a vida da vítima à disposição dele. E esse caso traduziu um
momento de violência exacerbada, covarde, desnecessária. Isso provoca uma
comoção popular muito grande. Toda violência é desnecessária. Mas cometer
isso com um cidadão dessa idade – de qualquer idade – isso provoca comoção,
assim como o episódio que ocorreu com um trabalhador do Hospital de Clínicas,
morto em plena Ramiro Barcelos. Mas o norte que a gente não deve perder
nisso, é que isso ocorre há dois, três, 10 anos. Esse quadrilátero entre o Bom
Fim, abarcando a partir do Rio Branco, margeando a Cristóvão Colombo, até a
Ipiranga, até Petrópolis, temos que tomar providências. Estamos agindo,
conversando com os comandos, tanto da Polícia Civil como da Brigada Militar.
Nós não podemos aceitar um número muito alto de assaltos que ocorre aí há
muitos anos.
ZH – O senhor diz que esses assaltos ocorrem há anos na região.
Por que só se adota providências, como força-tarefa, quando ocorrem
casos graves, mortes?
casos graves, mortes?
Michels – Nós, como força-tarefa, estamos atuando em regiões em que morre
muita gente. Trouxemos 200 PMs do Interior para os quatro territórios mais
violentos de Porto Alegre, até porque lá atuando a gente consegue evitar que
os infratores de lá se somem à região central. E estamos contratando mais
policiais.
ZH – Como conciliar o trabalho nos territórios da paz com o que é
preciso fazer nas regiões com altos índices de roubo de carros?
Michels – Temos um fenômeno, não tem aumentado o número de roubo de
carros em Porto Alegre. Temos ações de inteligência em andamento. Uma ação
que vamos fazer, por exemplo, em detrimento de atendimentos em delegacias,
é tirar policiais para que atuem nessas áreas fazendo trabalho de inteligência.
E somar a Brigada. Eu não gosto de dizer isso, pois temos uma evolução legal
importante, mas é fato que em casos de crimes de furto ou de roubo tentado,
se o sujeito não tem condenação anterior, a lei é branda. Existe o fenômeno em
que as pessoas são presas e em uma semana estão em liberdade. Não estou
cobrando do Judiciário – esse é o nosso sistema constitucional,
processual brasileiro e temos que conviver com ele. Não é uma justificativa, nós
temos que preservar esse sistema. Mas temos que elaborar sistemas policiais
que, mesmo com esse sistema (judicial) mais brando consiga coibir esse tipo
de delito, especialmente o roubo de veículo, já que o furto não coloca a vida
das pessoas em risco. As mortes que ocorrem nas vilas nos preocupam, mas
com igual intensidade preocupa que pessoas possam morrer por causa da
subtração de um carro. É por isso que o Código Penal define como crime mais
grave o de latrocínio.
temos que preservar esse sistema. Mas temos que elaborar sistemas policiais
que, mesmo com esse sistema (judicial) mais brando consiga coibir esse tipo
de delito, especialmente o roubo de veículo, já que o furto não coloca a vida
das pessoas em risco. As mortes que ocorrem nas vilas nos preocupam, mas
com igual intensidade preocupa que pessoas possam morrer por causa da
subtração de um carro. É por isso que o Código Penal define como crime mais
grave o de latrocínio.
ZH – O senhor tem medo de assalto?
Michels – As pessoas temem. Eu temo, tu temes. É um crime que deve ser
coibido e, no meu entender, o assalto com uso de arma deveria ter um
apenamento muito mais alto do que o atual previsto no Brasil.
ZH – O senhor acredita que ocorrências mais graves, roubos de carro,
podem estar relacionadas à diminuição de blitze?
Michels – Temos feito blitze. Mas temos que entender que a nossa polícia
ostensiva é demais exigida. Por exemplo, todos os finais de semana nós
mobilizamos em torno de 150, 200 homens para atender a partidas de futebol.
No Gre-Nal, a Brigada mobilizou 250 homens. Quando tu mobilizas
250 homens – e é necessário a cautela, a prudência – mas, na verdade,
esses homens não poderão trabalhar todo o final de semana. Porque sábado
têm de estar folga e estarão de folga na segunda. A Brigada tem demanda
de mobilidade muito grande que, às vezes, faz faltar homens e ações em
outros lugares.
ZH – O senhor entende que a BM não devia fazer o policiamento
nos estádios?
Michels – Essa discussão nós temos que levantar, já conversei
informalmente com o comandante (comandante-geral da BM, coronel Sérgio
Roberto de Abreu). Não que não precise segurança nos jogos de futebol,
mas temos que discutir. A sociedade quer a Brigada dentro dos estádios,
se sente mais segura? Ou os clubes assumem essa responsabilidade, já que
se trata de um evento privado?
ZH – O senhor diz que o número de roubos tem se mantido estável
e ao mesmo tempo afirmou que há um surto...
Michels – Quando digo surto é me referindo a esses dois episódios
(latrocínio na Ramiro Barcelos e o ataque ao idoso). Me marca muito um
latrocínio, em qualquer circunstância. O número de latrocínios esse ano
diminuiu em torno de 20%, mas isso não é motivo para festejar. O latrocínio
é um crime que comove muito. Esse caso que aconteceu com esse cidadão
com 81 anos, de forma violenta, também.
ZH – O que o senhor sentiu ao assistir às imagens da agressão
ao idoso?
Michels – Como qualquer cidadão, meu sentimento é de indignação.
Mas não só indignado. Como secretário, sinto uma frustração enorme.
Não tenho a pretensão de resolver os problemas de criminalidade de
um dia para outro, mas quando ocorre um latrocínio, fico profundamente
frustrado como secretário de segurança.