A onda de violência no rio de Janeiro, com nove pessoas esfaqueadas durante assaltos em uma semana, deu início a um jogo de empurra entre o prefeito Eduardo Paes (PMDB), o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro), Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, e nenhum deles se vê responsável pelo aumento da violência na cidade. Para o antropólogo Lenin Pires e o antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani, o impasse mostra a falência das políticas públicas de segurança, prevenção e enfrentamento da criminalidade
26 DE MAIO DE 2015
A polêmica começou com uma entrevista de Pezão ao jornal O Globo, no dia 20 de maio, quando criticou a ação do Judiciário: "[A polícia] bateu recorde de prisões em abril, sendo que cerca de 60% eram menores (...). [Porém] o policial entra por uma porta e a pessoa [o criminoso] sai pela outra. (...) E, quando fica preso, infelizmente, o desembargador dá uma liminar soltando todos. Se for para cumprir essa lei que está aí, a gente tem que discutir isso com toda a sociedade", afirmou
A declaração provocou a revolta do presidente do TJ-RJ. Para Carvalho, a entrevista de Pezão é uma "generalização que pode levar a raciocínios e compreensões equivocadas". Segundo ele, "não há relação de causalidade entre a morte trágica do ciclista" e a "ação da Justiça", que afirmou que o judiciário: "não se exime de suas responsabilidades em relação à segurança pública".
Já Paes foi polêmico ao falar, no dia 21 de maio, sobre a suposta participação de menores no assalto que terminou com a morte do ciclista: "O que a gente vê nesses casos é uma pessoa que sai armada de uma faca, agride, a ponto de levar essa pessoa à morte. Esse não é um criminoso que tem que ser tratado. É um delinquente que tem que ser tratado com a dureza da força policial. Não tem jeito. Isso não é um problema social", sustentou o prefeito.
A reportagem do UOL conversou com o antropólogo Lenin Pires (Universidade Federal Fluminense) e com o antropólogo e ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Paulo Storani sobre o confronto de versões entre autoridades públicas do Rio. Ambos afirmaram que, em geral, o impasse mostra a falência das políticas públicas de segurança, prevenção e enfrentamento da criminalidade.
"Todos eles atuam em uma representação de que a segurança pública é apenas a punição. Não há qualquer responsabilidade quanto às políticas de prevenção. Além disso, falta uma integração entre as forças de segurança para que todos falem a mesma língua. Enquanto não existir essa integração, a sociedade continuará refém dos interesses individuais de cada um", completou o antropólogo da UFF.
Na visão do ex-capitão de Storani, Paes, Pezão e o presidente do TJ têm uma "percepção limitada" do que é a segurança pública. "O policiamento precisa ser acompanhado de políticas sociais de prevenção, inclusão e educação. Além disso, existe uma necessidade urgente de revisão da norma jurídica. Erra o prefeito, erra o governador, erra, em parte, o desembargador do Tribunal de Justiça. Se o Judiciário solta, isso ocorre em razão da flexibilidade da lei", afirmou.
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