Powered By Blogger

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Os desafios depois da ocupação



GUERRA DO RIO - RODRIGO GHIRINGHELLI DE AZEVEDO, Zero Hora, Nov 2010

    Os acontecimentos da última semana no Rio de Janeiro, culminando com a ocupação do Complexo do Alemão pelas forças de segurança pública, constituem um marco importante no processo de pacificação social e garantia do direito à segurança no Brasil. Sem dúvida, a questão não está resolvida. No entanto, alguns elementos indicam que há avanços significativos.

   Há que se destacar a ação das polícias que, de forma articulada e competente, conseguiram restabelecer o controle do Estado sobre áreas importantes da cidade, sem produzir, até o momento, vítimas de forma desnecessária e abusiva.

   O mercado de drogas e outras mercadorias ilícitas existe em todo o mundo, e não vai acabar por meio da ação armada das polícias. No entanto, o que é inaceitável no contexto brasileiro é a ocupação de territórios por grupos armados, impondo à comunidade uma subserviência baseada na coação e no medo. Neste sentido, a retomada destes territórios pelo Estado, o recolhimento de armas e a desarticulação das lideranças destas facções é o primeiro passo para o resgate da cidadania nestas áreas, que precisa ser acompanhado por políticas públicas que garantam o exercício de direitos básicos como saúde, educação, moradia digna e trabalho, para que o poder até então exercido pelos chefes de quadrilha no Rio não seja substituído pelas milícias formadas por policiais e ex-policiais.

   A concretização de políticas públicas depende quase sempre da abertura de “janelas de oportunidade”, que pressionam o poder público. A janela aberta neste episódio oferece a oportunidade de enfrentar o desafio que passa pela reestruturação da segurança em escala nacional, com prioridade para o enfrentamento da corrupção policial, a retomada do controle público sobre a execução da pena de prisão e a viabilização de alternativas de vida para a juventude cooptada pelas facções criminais e os egressos do sistema carcerário. Da implementação destas políticas depende, em grande medida, a consolidação democrática no Brasil.

*RODRIGO GHIRINGHELLI DE AZEVEDO, Professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Criminais e em Ciências Sociais da PUCRS. 

Áreas de Porto Alegre onde o tráfico impõe regras

Polícia | 01/12/2010
Conheça as áreas de Porto Alegre onde o tráfico impõe regras

Tráfico impõe um cotidiano de medo e silêncio para milhares de pessoas em vilas da Capital
Gustavo Azevedo e José Luís Costa | gustavo.azevedo@zerohora.com.br, joseluis.costa@zerohora.com.br

Longe de serem fortalezas de traficantes, como ocorre no Rio, as vilas de Porto Alegre apresentam semelhanças preocupantes com os morros cariocas.

As polícias ainda não precisam montar operações de guerra para retomar os territórios, mas o tráfico impõe um cotidiano de medo e silêncio para milhares de pessoas, como Zero Hora comprovou ontem ao percorrer as vielas de cinco dos territórios mais dominados pelos criminosos e tentar conversar com os moradores.

Assim como no Rio, na Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, o líder da quadrilha que age na área, Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, parece manter o seu poder mesmo confinado em uma cadeia. No posto de saúde e na creche da Rua Mário de Artagão, funcionários baixam a cabeça e preferem não falar, com receio de represálias. Na esquina, adolescentes de boné e bermuda ficam à espreita, observando toda a movimentação. A maioria dos moradores se esquiva das perguntas. Poucos têm coragem de falar. E, quando abrem a boca, evitam dizer o nome. Saindo do posto, uma moradora aceita contar, mas com uma condição:

— Nunca falei contigo.

Em seguida, aponta para a Rua Paulino Azurenha.

— O Robin Hood fica na esquina — indicando para um possível olheiro do tráfico.

Segundo ela, os criminosos são conhecidos e praticamente não são importunados pela polícia.

— Eu conheço vários, cresceram tudo por aqui e entraram nessa vida. A vila continua tendo tiro, é difícil sair de casa. A BM aparece quase todo o dia, mas faz que não vê — aponta.

Distante dois quilômetros dali, no Campo da Tuca, área que divide com a Conceição a hegemonia do tráfico na Capital, o cenário é parecido. No entorno da vila, moradores afirmam escutar tiros quase diários. Ao entrar na Avenida Viegas, porta de entrada da Tuca, jovens sem camisa já começam a se movimentar na esquina. Moradores e comerciantes também têm medo de se expor.

— Não precisamos só de polícia. Queremos emprego, escola de qualidade, um posto de saúde melhor. Não tem nada para os jovens, que vivem soltos e muitos acabam no crime — lamenta um morador.

Zona Sul com domínio dividido

A preocupação com o tráfico também tira o sono dos moradores do Mario Quintana,bairro formado por gente de diferentes áreas de risco na zona norte da Capital, no qual uma significativa parte vive espremida entre becos sem calçamento e valetas a céu aberto.

— A gente não se mete com eles, e eles não fazem nada contra a gente — resume uma moradora.

Na Zona Sul, a Vila Cruzeiro — o antigo centro do tráfico de Porto Alegre — não tem mais um grande patrão. Estão presos ou mortos. Com dezenas de vilas, o tráfico é pulverizado em cada viela. Diferentemente dos morros cariocas, o chefe da boca da esquina não é o mesmo da próxima quadra. Essa diluição dificulta imposições aos habitantes, que convivem com o crime bem perto de suas portas.

— Eles ficam nas esquinas, parecem que estão apenas conversando — relata um morador.

Para não virar um novo Rio

Para tentar controlar as zonas de conflito, a Brigada Militar adota uma estratégia diferente da usada no Rio, onde as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) são a principal iniciativa contra o tráfico. Segundo o coronel Antero Batista, do Comando de Policiamento da Capital, a aposta se concentra em postos móveis e em mapas da criminalidade.

Manifestações do governador eleito, Tarso Genro, indicam que essa estratégia pode sofrer mudanças. A BM deverá ser integrada no projeto ,Territórios da Paz iniciativa similar às UPPs. O programa já ajudou a mudar a cara do bairro Guajuviras, derrubando pela metade o índice de homicídios.
ZERO HORA

Bandidos fugiram do Alemão pelo esgoto e com uniformes do PAC

Por Pedro Dantas, estadao.com.br, Atualizado: 29/11/2010 13:21

RIO - O delegado titular da 14ª Delegacia de Polícia (Leblon), Fernando Veloso, que participa nesta segunda-feira, 29, das operações de busca a traficantes, drogas e armas no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, afirmou que criminosos utilizaram a rede de esgoto e as galerias de águas pluviais como rotas de fuga. 'A prova disso é que, após uma informação de um morador, prendemos oito criminosos em uma tubulação de esgoto na noite de ontem', disse.

O delegado também contou que criminosos roubaram uniformes de funcionários das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e de concessionárias que atuam no conjunto de favelas, na Penha. A polícia ainda apreendeu, no início da tarde, três pistolas automáticas na Favela da Grota. Em outra localidade, um homem ainda não identificado foi preso.

Ontem, sete dias após o primeiro ataque da semana de terror no Rio, 2.700 homens das Polícias Civil, Militar e Federal e das Forças Armadas entraram no Complexo do Alemão. Não houve o combate que se esperava. Tampouco foram presos os chefes do tráfico da Vila Cruzeiro, Fabiano Atanazio, o FB, e do Alemão, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão.

Rotina. Nesta segunda, os agentes do Exército continuam a revistar todos os moradores que entram e saem do complexo de favelas. Com clima calmo, o comércio reabriu e funciona normalmente. Os agentes encontram dificuldades em alguns pontos por causa de barricadas colocadas por traficantes em ruas e acessos. Ja Rua Joaquim Queiroz, na Favela da Grota, por exemplo, o asfalto foi danificado e há um vazamento de água, por onde carros não conseguem passar.

Funcionários de algumas obras do PAC também já voltaram ao trabalho, inclusive na contenção do vazamento no acesso ao Morro da Fazendinha. Em contraste com o clima de guerra, a Estrada de Itararé, antes tomada apenas por policiais, hoje tinha até congestionamento.

Em busca de drogas, policiais também estão vasculhando casas em busca de drogas e armamentos. Uma equipe de policiais do 1º BPM (Estácio) apreendeu em uma localidade conhecida como Zona do Medo, no alto do Morro da Fazendinha, seis fuzis, cinco granadas, quatro bombas de fabricação caseira e uma pistola. O armamento estava escondido sob folhas de bananeira.

Homens da Polícia Civil também apreenderam, na Rua Canitar, na Favela da Grota, 3 mil papelotes de cocaína e coletes a prova de balas. De acordo com os agentes, a droga estava próxima ao local onde eram realizados bailes funk patrocinados por traficantes de drogas.

Mas moradores reclamam da forma como os agentes trabalham e alguns, inclusive, falam de arrombamentos e saques. Um pedreiro de 47 anos saiu sábado às 17h de casa porque viu que a polícia ia invadir o morro, não queria ficar no meio do tiroteio e foi dormir na casa de um amigo.

Após a tomada do local pela polícia, ele resolveu voltar. Quando chegou em casa, viu que o local já tinha sido arrombada pela polícia e havia sumido seu computador. 'Eles tinham que esperar o morador chegar antes de arrombar. Ainda estragaram minha porta de madeira novinha que eu tinha acabado de colocar', reclama.

Hospitais. Todas as unidades de saúde estão funcionando regularmente na cidade nesta segunda-feira, inclusive nas regiões da Penha e Complexo do Alemão. Nestas locais e em alguns bairros da zona oeste, unidades chegaram a ser fechadas nos últimos dias por questões de segurança. No Alemão, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na Estrada do Itararé, atende normalmente os casos de urgência e emergência dos moradores desde domingo, 28.

Entre quinta-feira, 25, e domingo, 28, a Central de Regulação municipal transferiu 31 pacientes do Hospital Estadual Getúlio Vargas para outras unidades com o objetivo de liberar leitos para possíveis feridos nos confrontos no Complexo do Alemão. No fim de semana, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio (SMSDC) disponibilizou um helicóptero para fazer transferências para hospitais especializados.

Plantão de Notícias

Zero Hora

Últimas notícias

Carregando...