ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
A CGA (Corregedoria Geral da Administração), órgão fiscalizador do governo do Estado, investiga a suspeita de irregularidades em uma licitação de R$ 7,5 milhões para implementar 25 delegacias móveis (em furgões) na Polícia Civil paulista.
A compra dos veículos e demais equipamentos, feita em 2009, não surtiu nenhum efeito para a segurança pública no Estado, diz relatório da corregedoria.
As delegacias não estão funcionando, entre outras razões, porque o sistema de informática previsto no contrato não corresponde ao que foi entregue à Polícia Civil.
Os veículos não dispõem, por exemplo, de internet, o que impede a transmissão de informações entre as 25 unidades móveis e o Dipol (departamento de inteligência da Polícia Civil), onde fica a base de dados da instituição.
A investigação também apontou que um dos furgões não pode circular por ter problemas de infiltração. Em outros casos, os veículos dependiam de energia elétrica de "particulares ou prefeituras" para o funcionamento de equipamentos.
Ouvida pela Corregedoria da Polícia Civil, que também apura o caso, uma investigadora do Dipol disse que o treinamento dos policiais foi feito sem a utilização dos furgões e dos equipamentos, tendo como base apenas fotografias.
Essa investigação apura a responsabilidade de ao menos 11 policiais na compra, sendo 9 delegados.
A licitação foi homologada pelo ex-delegado-geral Domingos Paulo Neto, que hoje é chefe do Decap (a central das 93 delegacias da cidade de São Paulo), um dos maiores departamentos policiais da América Latina, com cerca de 8 mil integrantes.
Ele não é formalmente alvo da investigação, mas pode vir a ser responsabilizado administrativamente, segundo a Folha apurou.
Neto foi procurado por meio da Secretaria da Segurança Pública, mas não comentou a investigação.
Depois de analisar documentos e relatos de testemunhas, os investigadores concluíram que o projeto é "deficiente"; que há suspeita de "conluio" na licitação e que é inaceitável que os veículos estejam parados.