Polícia | 01/12/2010
Conheça as áreas de Porto Alegre onde o tráfico impõe regras
Tráfico impõe um cotidiano de medo e silêncio para milhares de pessoas em vilas da Capital
Gustavo Azevedo e José Luís Costa | gustavo.azevedo@zerohora.com.br, joseluis.costa@zerohora.com.br
Longe de serem fortalezas de traficantes, como ocorre no Rio, as vilas de Porto Alegre apresentam semelhanças preocupantes com os morros cariocas.
As polícias ainda não precisam montar operações de guerra para retomar os territórios, mas o tráfico impõe um cotidiano de medo e silêncio para milhares de pessoas, como Zero Hora comprovou ontem ao percorrer as vielas de cinco dos territórios mais dominados pelos criminosos e tentar conversar com os moradores.
Assim como no Rio, na Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, o líder da quadrilha que age na área, Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, parece manter o seu poder mesmo confinado em uma cadeia. No posto de saúde e na creche da Rua Mário de Artagão, funcionários baixam a cabeça e preferem não falar, com receio de represálias. Na esquina, adolescentes de boné e bermuda ficam à espreita, observando toda a movimentação. A maioria dos moradores se esquiva das perguntas. Poucos têm coragem de falar. E, quando abrem a boca, evitam dizer o nome. Saindo do posto, uma moradora aceita contar, mas com uma condição:
— Nunca falei contigo.
Em seguida, aponta para a Rua Paulino Azurenha.
— O Robin Hood fica na esquina — indicando para um possível olheiro do tráfico.
Segundo ela, os criminosos são conhecidos e praticamente não são importunados pela polícia.
— Eu conheço vários, cresceram tudo por aqui e entraram nessa vida. A vila continua tendo tiro, é difícil sair de casa. A BM aparece quase todo o dia, mas faz que não vê — aponta.
Distante dois quilômetros dali, no Campo da Tuca, área que divide com a Conceição a hegemonia do tráfico na Capital, o cenário é parecido. No entorno da vila, moradores afirmam escutar tiros quase diários. Ao entrar na Avenida Viegas, porta de entrada da Tuca, jovens sem camisa já começam a se movimentar na esquina. Moradores e comerciantes também têm medo de se expor.
— Não precisamos só de polícia. Queremos emprego, escola de qualidade, um posto de saúde melhor. Não tem nada para os jovens, que vivem soltos e muitos acabam no crime — lamenta um morador.
Zona Sul com domínio dividido
A preocupação com o tráfico também tira o sono dos moradores do Mario Quintana,bairro formado por gente de diferentes áreas de risco na zona norte da Capital, no qual uma significativa parte vive espremida entre becos sem calçamento e valetas a céu aberto.
— A gente não se mete com eles, e eles não fazem nada contra a gente — resume uma moradora.
Na Zona Sul, a Vila Cruzeiro — o antigo centro do tráfico de Porto Alegre — não tem mais um grande patrão. Estão presos ou mortos. Com dezenas de vilas, o tráfico é pulverizado em cada viela. Diferentemente dos morros cariocas, o chefe da boca da esquina não é o mesmo da próxima quadra. Essa diluição dificulta imposições aos habitantes, que convivem com o crime bem perto de suas portas.
— Eles ficam nas esquinas, parecem que estão apenas conversando — relata um morador.
Para não virar um novo Rio
Para tentar controlar as zonas de conflito, a Brigada Militar adota uma estratégia diferente da usada no Rio, onde as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) são a principal iniciativa contra o tráfico. Segundo o coronel Antero Batista, do Comando de Policiamento da Capital, a aposta se concentra em postos móveis e em mapas da criminalidade.
Manifestações do governador eleito, Tarso Genro, indicam que essa estratégia pode sofrer mudanças. A BM deverá ser integrada no projeto ,Territórios da Paz iniciativa similar às UPPs. O programa já ajudou a mudar a cara do bairro Guajuviras, derrubando pela metade o índice de homicídios.
ZERO HORA
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