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sábado, junho 22, 2013

Tarso Genro e manifestantes protagonizam diálogo inédito nas redes

21 de Junho de 2013
O governo gaúcho foi o primeiro a abrir o diálogo com manifestantes dos movimentos sociais
O governo gaúcho foi o primeiro a abrir o diálogo com manifestantes dos movimentos sociais
Diante da tomada das ruas por centenas de milhares de pessoas nas principais cidades do país, o governo gaúcho foi o primeiro a tomar a iniciativa de abrir o diálogo e receber, presencial e virtualmente, manifestantes, jornalistas e ativistas digitais para conversar na tarde desta quinta-feira (20), em Porto Alegre. Críticas ao sistema de representação democrática e à mídia e exigências de reformas estruturais juntaram-se aos relatos de violência policial nas últimas manifestações e por pedidos de respostas sobre a atuação da Brigada Militar (BM). "O aparato policial foi criado para reprimir a cidadania. Nós estamos constituindo uma nova educação, uma nova formação, mas isso não muda de um dia para o outro", disse o governador Tarso Genro na audiência, transmitida ao vivo pelo Gabinete Digital.

Durante a conversa, mediada pelo secretário-geral de Governo Vinícius Wu, o site do Gabinete Digital teve cerca de 500 mil acessos. O diálogo foi transmitido também pela página do governo, por canais de televisão e por diversos sites e blogs. 

"Não são só R$ 0,20" 
A primeira parte do diálogo girou em torno de questões mais conceituais sobre o caráter e os rumos do movimento, o papel dos partidos políticos e o processo de construção democrática envolvendo a internet. Para o jornalista e blogueiro Marco Weissheimer, a eclosão dos movimentos, ao passo em que apresenta riscos aos direitos humanos, com a repressão policial e uma guinada à direita, também caracteriza uma oportunidade de reflexão sobre o crescimento de uma "agenda fundamentalista" no país. 

O ativista Marcelo Branco comparou o que está acontecendo no Brasil com a mobilização da Europa, dos Estados Unidos e do mundo árabe em 2011: "são indivíduos em rede produzindo conteúdo sem intermediários. As lideranças não podem ser cooptadas porque não há lideranças". O fato de se tratar de movimentos horizontais, no entanto, não significa que organizações mais tradicionais não possam participar. Para o estudante carioca Felipe Garcez, "a proibição dos partidos aponta para uma ditadura". 

Entre as pautas de reivindicação apontadas pelos participantes, estão os gastos com a Copa do Mundo de 2014, o custo de vida da população mais pobre, a democratização da mídia, a reforma política. "Estamos lutando por dignidade, direitos e participação direta nas decisões do Estado", afirmou Rodrigo Barcelos (Briza), do Bloco de Luta pelo Transporte Público. "A ampliação dos mecanismos de democracia dentro da gestão do Estado é fundamental", completou o secretário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Marcelo Danéris. 

Relatos de violência policial 
O jornalista Gabriel Gali se emocionou ao relatar a agressão sofrida por policiais militares na última segunda-feira (17), quando foi preso e mantido algemado por sete horas após gravar um vídeo da atuação policial. "Uma das coisas que mais me emocionou foi ver uma menina de 15 anos dizer que foi agredida e que, quando ela disse aos policiais que eles não podiam fazer isso, a resposta foi que no Brasil vivemos em uma ditadura, que o comando era da polícia e que ela devia ficar calada", contou. Situação semelhante foi vivenciada por Briza, que apontou excessos no tratamento recebido da BM. 

O jornalista e editor do site Sul21, Igor Natusch, questionou qual deve ser o procedimento dos manifestantes ao encontrar policiais sem identificação, e disse que a situação está "cada vez mais tensa e extremada, diante da insatisfação de grande parcela da população com o poder público". "Se o governo tem alguma dúvida, que vá às ruas presenciar o que está acontecendo", completou Fernando Costa, da ONG Amigos da Terra e do Comitê contra a Copa. 

Mudança de cultura 
O governador foi enfático ao rechaçar a atitude violenta relatada pelos presentes. "Lamentavelmente não posso garantir que não vão acontecer incidentes como esse, mas garanto que essa é a nossa orientação", afirmou, acrescentando que existe um esforço muito grande de mudança da cultura dentro da Brigada Militar. Ele citou o programa Territórios de Paz como exemplo de política nesse sentido, com a presença de policiais com outra formação junto às comunidades, como estrutura de segurança voltada à cidadania. Tarso garantiu que serão investigados os excessos cometidos por membros da corporação e pediu ajuda dos ativistas nas denúncias. "Vamos instituir mecanismos para canalizar críticas e aperfeiçoar nosso trabalho". 

Ele também refletiu sobre a conjuntura atual da sociedade, apontando a crise de representação e do modo de vida dentro do "sistema capitalista consumista e predatório" como causas para o povo ir às ruas. Tarso fez uma crítica ao Parlamento, por sua incapacidade de diálogo com a população e de conexão com a realidade, à sujeição do Estado pelo capital financeiro e aos partidos políticos, que não conseguem mais, segundo ele, agir diante da nova conformação social. 

Por fim, o governador propôs uma reflexão sobre o próprio movimento e seus objetivos, para que de fato incida sobre a realidade e tenha poder de transformação social. "O movimento social adquire força quando tem unidade de propósitos e coloca em xeque os governos", concluiu.
Texto: Cristina Rodrigues
Foto: Claudio Fachel
Edição: Redação Secom

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